No Brasil, o mercado de trabalho ainda apresenta barreiras significativas para pessoas com deficiência (PCDs), dificultando sua ascensão profissional, mesmo após mais de três décadas da implementação da lei de cotas. Um estudo recente da consultoria Noz Inteligência revela que a promoção e o reconhecimento desses profissionais permanecem desafiadores. Com a maioria enfrentando preconceitos e práticas de superproteção, a trajetória de carreira das PCDs está longe de ser equitativa. Este cenário destaca a urgência de iniciativas que promovam um ambiente de trabalho mais inclusivo e que possibilitem o desenvolvimento pleno das habilidades e potencialidades dessas pessoas.
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Barreiras à promoção no mercado de trabalho
De acordo com a pesquisa da Noz Inteligência, 60% das pessoas com deficiência afirmam nunca terem sido promovidas. Os dados revelam que essa situação é alarmante mesmo entre profissionais com ensino superior completo (53%) e aqueles que estão há mais de dez anos na mesma empresa (45%).
Além disso, 30% dos entrevistados não atuam em suas áreas de formação por falta de oportunidades, enquanto 20% exercem funções em níveis hierárquicos inferiores.
O Impacto do preconceito e superproteção
Os desafios enfrentados por PCDs no ambiente de trabalho são exacerbados por dois comportamentos comuns: preconceito e superproteção. Sete em cada dez entrevistados relataram experiências de preconceito, enquanto seis em cada dez mencionaram ter vivido situações de superproteção, onde suas capacidades e independência são subestimadas.
Thays Martinez, advogada especializada, ressalta que “o profissional com deficiência em geral não sofre com hostilidade ou discriminação. Mas tem aquela coisa ‘cuidadosinha’. As pessoas querem te incluir, mas desde que você faça o papel de ‘café com leite’. Isso é muito ruim porque acaba dificultando a evolução profissional”.
Feedback e desenvolvimento
Um ponto crítico destacado por Martinez é a falta de feedback construtivo por parte de gestores, que pode ser motivada pela intenção de proteger o funcionário ou pela descrença em suas habilidades.
“Situações como essa impedem o desenvolvimento. Às vezes é difícil para o gestor, mas a conversa aberta é sempre o melhor caminho. Pessoas com deficiência são iguais às outras”, afirma.
A necessidade de sensibilização
Juliana Vanin, economista e coordenadora da pesquisa, destaca que a dificuldade de reconhecimento profissional das PCDs vai além da qualificação ou do tempo de experiência.
“A lei de cotas garante a entrada no mercado de trabalho, mas não estimula investimento em qualificação nem evolução da carreira. A pesquisa mostra uma forte dificuldade de promoção dos profissionais com deficiência. Isso ocorre mesmo quando se considera o tempo na empresa ou a escolaridade.”
A construção de ambientes inclusivos
Marcelo Zig, porta-voz da Inklua, enfatiza a importância da sensibilização das equipes de trabalho.
“A maioria das pessoas não tem contato com pessoas com deficiência. Quando entra um profissional na equipe, não é demandado, não participa de cursos nem tem o talento aprimorado. É preciso humanizar as relações no espaço do trabalho para que a presença não seja apenas para cumprir cota”, defende.
Conclusão
Embora algumas empresas estejam avançando na criação de ambientes inclusivos que promovam o crescimento profissional de PCDs, a jornada em direção a uma inclusão plena ainda é longa.
A conscientização e a formação contínua de equipes são fundamentais para garantir que todos os colaboradores tenham a oportunidade de desenvolver seu potencial e conquistar a ascensão profissional que merecem.
Fonte: Valor Econômico
Imagem: Freepik