A deficiência visual afeta milhares de pessoas no Brasil, exigindo suporte contínuo e especializado. Para atender a essa demanda, a rede de saúde pública conta com sete Centros Especializados em Reabilitação (CERs) focados em oferecer diagnóstico, tratamento e acompanhamento personalizado. Essas unidades têm o objetivo de garantir a autonomia e a inclusão social de quem enfrenta desafios na visão.
Neste artigo, destacamos os principais serviços oferecidos pelos CERs e a importância do atendimento multidisciplinar para promover a independência das pessoas com deficiência visual.
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O que é deficiência visual e suas principais causas?
A deficiência visual se caracteriza pela perda parcial ou total da visão, que pode ser de origem congênita ou adquirida. Entre as causas congênitas, destacam-se a catarata congênita, a retinopatia da prematuridade e o glaucoma congênito. Já nas causas adquiridas, os principais fatores que resultam em perda visual irreversível são o glaucoma, a retinopatia diabética e a Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI).
Para prevenir esses problemas, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) reforça a necessidade de acompanhamento oftalmológico desde a infância, com o teste do olhinho realizado nas maternidades. No caso dos adultos, exames oftalmológicos periódicos permitem a detecção precoce de doenças oculares, possibilitando um tratamento mais eficaz.
Centros Especializados em Reabilitação (CERs): onde encontrar apoio?
A cidade conta com sete CERs especializados no atendimento à deficiência visual, localizados em diferentes regiões:
- Zona Sudeste: CERs Penha e Flávio Gianotti
- Zona Sul: CERs M’Boi Mirim, Cidade Ademar e Milton Aldred
- Zona Leste: CERs Guaianases e São Miguel
Essas unidades integram a Rede de Atenção à Saúde da Pessoa com Deficiência e têm como objetivo oferecer apoio integral. Após o encaminhamento pela Unidade Básica de Saúde (UBS), o paciente é acolhido no CER por uma equipe multidisciplinar. Nesse processo, é elaborado um Plano Terapêutico Singular (PTS), que define as estratégias personalizadas para o tratamento e a reabilitação do paciente.
Além disso, os CERs também realizam a adaptação e a manutenção de tecnologias assistivas, que são equipamentos e recursos voltados para a inclusão e a autonomia dos pacientes.
Como funciona o atendimento nos CERs?
O atendimento nos CERs vai além da reabilitação física. Cada paciente é acompanhado por uma equipe composta por psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, oftalmologistas e assistentes sociais. O trabalho tem como foco a autonomia, a inclusão social e a melhoria na qualidade de vida.
O processo de reabilitação é personalizado, considerando as necessidades de cada pessoa. As ações incluem:
- Treinamento de mobilidade e orientação: pacientes aprendem a identificar e contornar obstáculos, além de usar a bengala, que se torna uma extensão do próprio corpo;
- Atividades de vida diária: apoio no aprendizado de tarefas cotidianas, como cozinhar e cuidar do lar;
- Acompanhamento psicológico: apoio emocional para a aceitação da nova condição e desenvolvimento da autoconfiança.
Reconquistar a autonomia: relatos de superação
Para muitas pessoas, a perda da visão representa um desafio emocional e psicológico. No entanto, o apoio oferecido pelos CERs tem transformado a vida de muitos pacientes, promovendo o resgate da autonomia.
Maria Glória Barbosa Souza, de 41 anos, foi diagnosticada com retinopatia diabética aos 21 anos e atualmente perdeu a visão do olho direito, além de possuir baixa visão no esquerdo. Inicialmente, ela teve resistência ao uso da bengala. “A bengala para mim era o fim, mas eles me fizeram entender que ela abre o caminho do meu andar e também do meu psicológico”, afirma Maria Glória. Com o apoio do CER, ela obteve um sapato de adaptação para o pé diabético e passou a ter mais segurança e mobilidade.
Cícero Soares Barbosa, chefe de cozinha de 56 anos, perdeu a visão por conta da toxoplasmose. Ele descobriu o apoio oferecido pelo CER ao ouvir o som das bengalas no local. “Aqui, conhecendo a realidade de cada um, nos fortalecemos; às vezes chego chorando e saio sorrindo”, comenta Cícero, que encontrou no CER não apenas tratamento, mas também uma rede de apoio.
Henrique Moura Mota, de 37 anos, que sofre com glaucoma em ambos os olhos, destaca a importância da aceitação e do apoio multiprofissional. “Aqui conversamos, aprendemos sobre as novas possibilidades, e com isso me sinto livre novamente”, relata.
Patrícia Vitória Dias, de 33 anos, enfrentou o descolamento de retina após anos de uso de lentes de contato, além de desenvolver catarata e glaucoma. Após as cirurgias, perdeu a visão e encontrou no CER o suporte necessário para se reerguer. Hoje, ela participa do grupo de orientação e mobilidade, o que lhe garantiu mais independência. “Aprendi a manusear a bengala e, por conta disso, obtive autonomia. Antes eu ficava dentro de casa, mas hoje lavo, passo, organizo excursões e tenho renda”, conta Patrícia.
Uso da bengala: desafio e transformação
O uso da bengala é um dos pontos centrais no processo de autonomia. Muitas pessoas enxergam o objeto como símbolo de limitação, mas a reabilitação nos CERs promove uma mudança de perspectiva. O instrumento passa a ser visto como um elemento de liberdade e segurança.
A aceitação e o uso correto da bengala permitem que os pacientes reconquistem a autonomia, tanto dentro quanto fora de casa. O treinamento inclui práticas em ambientes externos, como ruas e outros locais públicos.
Fonte: Cidade de São Paulo Saúde