A pandemia de Covid-19 deixou marcas profundas na educação brasileira, especialmente entre crianças e adolescentes. Mesmo com avanços em algumas áreas, o país ainda não recuperou os níveis de aprendizagem e acesso à educação observados antes de 2020.
Um estudo recente do Unicef revelou que milhões de estudantes permanecem em situação de atraso escolar ou privação educacional, destacando a necessidade de políticas públicas mais focadas para superar os impactos.
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Acesso à educação: avanços tímidos após retrocessos
O estudo “Pobreza Multidimensional na Infância e Adolescência no Brasil – 2017 a 2023”, baseado na Pnad Contínua do IBGE, indica que, embora o percentual de crianças e adolescentes fora da escola tenha diminuído para 7,7% em 2023, o país ainda está longe do índice de 7,1% registrado em 2019.
Durante a pandemia, esse índice chegou a 8,8%, evidenciando os desafios enfrentados pelo sistema educacional no período. Atualmente, 619 mil crianças estão em privação extrema de educação, ou seja, sem frequentar a escola.
Cenário alarmante na alfabetização infantil
Os impactos da pandemia foram mais severos na alfabetização. Em 2023, 30% das crianças de 8 anos ainda não estavam alfabetizadas, mais que o dobro da taxa de 2019, que era de 14%.
A situação é ainda mais preocupante em áreas rurais, onde o analfabetismo alcançou 45% entre crianças de 7 e 8 anos. Essa lacuna reflete dificuldades no ensino remoto e na falta de recursos educacionais em regiões vulneráveis.
Desigualdade econômica e educação
A renda familiar também desempenha um papel crucial no aprendizado.
Crianças das famílias mais pobres enfrentaram maiores desafios durante a pandemia, com a taxa de analfabetismo aumentando de 15,6%, em 2019, para 30%, em 2023.
Entre as famílias mais ricas, o índice subiu de 2,5% para 5,9% no mesmo período.
Políticas públicas e caminhos para o futuro
Iniciativas como o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, lançado em 2023, têm mostrado resultados positivos, com a taxa de analfabetismo entre crianças de 8 anos caindo para 23,3% em 2024.
No entanto, especialistas destacam a importância de ações coordenadas nos âmbitos municipal, estadual e federal para garantir a alfabetização na idade certa e reduzir as desigualdades educacionais.
Outras dimensões da pobreza multidimensional
O relatório também analisou outras áreas além da educação, como renda, saneamento e segurança alimentar, ressaltando os desafios que comprometem o bem-estar de crianças e adolescentes no país.